População de Nampula denuncia condições precárias na morgue do Hospital Central

 





Nampula (Ikweli) – A população da cidade de Nampula tem manifestado repetidamente a sua insatisfação quanto à gestão da morgue do Hospital Central de Nampula (HCN), denunciando a falta de condições adequadas para a conservação de corpos.


Segundo os munícipes, os cadáveres são mantidos sem refrigeração apropriada, o que gera um odor insuportável nos corredores da unidade sanitária, levando, frequentemente, a enterros apressados. 


João, um dos entrevistados, contou que perdeu o irmão no hospital e enfrentou dificuldades logo após o óbito. “Disseram-nos que não havia espaço nas câmaras frigoríficas e que o sistema de refrigeração estava avariado. O corpo já começava a decompor-se. Fui obrigado a acelerar todo o processo para o funeral”, relatou.


Diante da gravidade da situação, alguns residentes pediram intervenção do governador provincial, Eduardo Mariamo Abdula. Durante um encontro com o dirigente, a cidadã Abiba Gulamo apelou: “Precisamos do apoio do tio Salim para resolver o problema da morgue. O cheiro é insuportável e os frigoríficos não funcionam, deteriorando os corpos”.


Apesar das denúncias, pouco tem sido feito para resolver o problema. Em visita ao local, o ministro da Saúde, Ussene Isse, esclareceu que a gestão das morgues não está sob alçada do seu ministério, mas sim dos municípios. “Essa responsabilidade foi descentralizada. No entanto, estamos disponíveis para colaborar com as autoridades municipais para encontrar soluções. A questão mortuária exige sensibilidade”, afirmou.


Contrariamente, Assane Ussene, vereador de Salubridade e Gestão Funerária do município, alegou que a gestão das câmaras frigoríficas não está sob responsabilidade municipal, limitando-se à emissão de certidões de óbito e à coordenação de transladações e cremações. “Usamos creolina para minimizar os odores, mas a responsabilidade da conservação dos corpos é do hospital”, defendeu.


No entanto, informações apuradas pelo Ikweli contradizem o vereador, indicando que desde 2010 a gestão de morgues e cemitérios foi transferida para os municípios. O Plano Quinquenal Autárquico 2024-2028 da cidade de Nampula também aponta como missão municipal a gestão ética e humanizada dos serviços funerários, incluindo a construção de uma nova morgue em Natikiri.


Gamito dos Santos, antigo funcionário municipal, recorda que durante a gestão do edil Mahamudo Amurane, existia um plano para reabilitação da morgue e aquisição de novas câmaras frigoríficas. “O município não pode eximir-se de responsabilidade. O que falta é articulação com o hospital e a direção provincial para reverter o cenário de degradação”, declarou.


Atualmente, a morgue do HCN conta com apenas 33 câmaras frigoríficas, número insuficiente para responder à demanda crescente da cidade.

Enviar um comentário

0 Comentários
Our website uses cookies to enhance your experience. Learn More
Ok, Go it!