Clima de terror em Ancuabe obriga população a fugir após novos ataques

 




Desde o dia 28 de março, o distrito de Ancuabe, na província de Cabo Delgado, voltou a ser alvo de intensos ataques protagonizados por grupos armados, mergulhando as comunidades num ambiente de medo e instabilidade.


As investidas têm sido marcadas por extrema violência. Diversas aldeias foram invadidas e queimadas nos últimos dias, obrigando milhares de residentes a abandonarem as suas casas e plantações – justamente numa altura crucial para a colheita.


Testemunhas relataram que “ontem incendiaram casas, levaram motorizadas e outros bens nas aldeias de Nacole e Ngura por volta das 17h, e só se retiraram ao amanhecer”. A aldeia de Nacole é uma das primeiras na rota que leva à base de Chaimite.


Há poucos dias, insurgentes bloquearam a Estrada Nacional EN14, que faz a ligação entre Ancuabe e Montepuez. Durante esse bloqueio, dois camiões foram incendiados, sendo que um deles transportava alimentos fornecidos pelo ACNUR, destinados a vítimas de ciclones e da própria violência armada.


A violência também atingiu fortemente a aldeia Nkole, onde vários civis ficaram feridos. No dia seguinte, o ataque voltou-se contra a aldeia Ngura. Lá, o centro de saúde foi vandalizado, mais de 30 habitações foram destruídas pelo fogo, duas igrejas foram incendiadas, e, ao recuarem, os atacantes ainda roubaram bicicletas e motorizadas da população.


O clima é de desespero total. Famílias estão a fugir às pressas, deixando tudo para trás – desde os pertences até as plantações que garantiriam alimento para os próximos meses. Muitas destas pessoas fogem sem qualquer direção definida, apenas guiadas pela urgência de sobreviver.


A crise humanitária agrava-se à medida que os ataques se repetem, e cresce entre os moradores o sentimento de desamparo. A cada novo episódio, renasce a mesma pergunta angustiante: até quando o povo de Ancuabe – e de toda Cabo Delgado – será forçado a viver entre o medo e o abandono, longe das suas terras?

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